quinta-feira, 24 de abril de 2014

Cair como sopa no mel

No contexto de um Seminário da Antena do Campo Freudiano (ACF - Portugal), agora num novo e belíssimo espaço, dei por mim a usar a expressão: «cair como sopa no mel». Para minha surpresa, isso gerou indignação geral. Não pode ser, afirmaram em coro, pois a sopa e o mel não se dão bem!

De facto, parece estranho, paradoxal. Lembrei-me até de algumas leituras da minha adolescência, como a «Mafalda toda». A nossa Mafaldinha, acusando o capitalismo de ter inventado a sopa - e este é apenas um dos seus malefícios - recusava-se a comê-la, fazendo birra, ou então argumentando, o que é no fundo uma birra mais sofisticada, mais filosófica. Para já não falar na sopa no mel: o que diria a pobre Mafalda, que cara faria? Portanto, não pode ser: nem sopa, nem mel. E muito menos mel a cair na sopa! Indignai-vos! Não pode ser!

E, contudo, pode. Mais do que pode: é! O que não pode ser...É!

Como chamar a isso que não pode ser e, não obstante, é? Milagre (do significante) ou real?

Neste caso, o bem dizer d'alíngua (como escrevia Lacan, inventando o que ainda não era) torna possível...o IMPOSSÍVEL DE DIZER.

Para mais dúvidas, há o Ciberdúvidas! Está lá (quase) tudo bem explicacado: cair como sopa no mel diz-se daquilo que acontece da forma mais conveniente e no momento mais propício; que vem a propósito, que acontece como se deseja, que calha bem.

Vem mesmo a calhar!

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