sexta-feira, 2 de maio de 2014

Gostar ou não gostar

Costuma dizer-se que uma imagem diz mais do que mil palavras. Mas uma imagem não diz. Uma imagem mostra. É por isso que não basta, que não se basta a si mesma. Uma imagem não faz ponto de...BASTA! Por isso traz outra imagem. E sempre mais outra. Se uma imagem dissesse mais do que mil palavras não eram precisas tantas imagens, bastava uma.

Uma imagem não diz, mostra. É por isso que atrai um dizer. Um dizer que diga o que ela mostra, que a garanta. Pode ser um grau zero, um mínimo dizer, um dizer perto do chão. Um simples: «gosto». Como no facebook: I like.

O facebook é um novo espelho. Uma nova encarnação do estádio do espelho (Lacan). Não no sentido do que passa ou do que ficou lá atrás, mas antes como prova do que não para de não passar. Como uma doença incurável.O facebook é parte da nossa doença incurável. Da nossa debilidade. Do nosso ponto fraco por algo que sempre nos repete: «Tu és isso» (Lacan). Isso, o quê?

Não sabemos. Queremos saber. Postamos imagens, aguardamos «likes».. Como será que o Outro me vê? Será que gosta? Buscamos o olhar do Outro como se ele tivesse a chave daquilo que somos. Mas sobretudo um signo no Outro: um signo de amor. Estamos demasiado perto de nós (e sempre muito longe) para nos vermos bem. Mas ele... Se ele não me «laica», será que (me) gosta?

O problema é que a imagem, em vez de dizer mais do que mil palavras, mostra sempre menos do que gostaríamos de ver. Um impossível de ver. E por vezes mais, sem dúvida. Mais até do que aquilo que suportamos. Que gostaríamos de ver. Daí a importância do «like»: ele veste de amor o impossível, o insuportável. Mas também pode inibir-nos, angustiar-nos, sobretudo quando não vem, quando não chega. Ou chega sob a forma de um «comentário» que não agrada, que não conforta.

Cada imagem nos mortifica um pouco, nos congela. E hoje, além do mais, como diria Benjamin, num mundo de imagens que se repetem indefinidamente, graças a múltilplos dispositivos cuja função é unicamente produzir imagens sem fim, a «aura» esvaneceu, apagou-se. Daí que aguardemos um like, um comentário como quem espera um suplemento de aura. Um pequena graça nesta era desgraçada!

Quase me apetece dizer, como Bartleby: I would prefer not...like!

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