domingo, 15 de junho de 2014

Poesia depois de Auschwitz...

Quem não conhece a pergunta de Adorno: É possível a poesia depois de Auschwitz? A pergunta contém já uma resposta, mesmo se o autor foi modificando a sua posição ao longo do tempo, em particular depois de conhecer a poesia de Paul Celan. E compreende-se: como poetar frente ao horror?

Mas se abandonarmos a via da compreensão, a pergunta-resposta de Adorno já não faz sentido, pois o que é uma vida sem poesia senão, precisamente, Auschwitz, o horror, o grau zero da vida? Ou melhor: muitos graus abaixo de zero, próximo do zero absoluto. A vida ao nível da morte. A morte.

A poesia é uma luta perene com a morte, com as palavras mortificadoras, as palavras de ordem, as sentenças que se gravam nesta e na outra cena do corpo, como tão bem mostrou Kafka, na Colónia Penal.

Nunca foi tão necessária a poesia como depois de Auschwitz. Para que os burocratas da morte não triunfem jamais! Para que o desejo de viver não esmoreça em cada um de nós. Pois, na verdade, como diz um sonho analisado por Lacan no Seminário VI, O desejo e a sua interpretação, há quem já esteja morto e não saiba...

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