segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O tempo que passa...

Há uma pergunta que antecede o desenlace do filme Boyhood - Momentos de uma Vida; filme que tive ontem a oportunidade de ver. Cito de cor: somos nós que aproveitamos o momento ou ele que nos aproveita? Tal como acontece numa análise, nem sempre as perguntas são para responder no imediato; elas podem fazer corte. E, na verdade, o filme termina logo a seguir. Esta é, pois, uma questão que funciona como um ponto de: basta! Um ponto de basta ao fim de três horas, ao fim de mais de uma década de filmagens.

O tempo é, efetivamente, o protagonista deste filme. O tempo que escorre, que passa. O tempo do cinema, é certo, mas também o tempo da vida: da vida que se vai fazendo, pois a vida é algo que se faz e que se inventa à medida que se vive. Não há respostas que compreendam a vida toda. E este é um filme rente à vida: ao que nela há de esquivo, de fugidio. Uma tentativa de fixar, de fotografar momentos de uma vida que não cessa de fluir. Entre um momento e outro, a vida passa. Se não aproveitarmos o momento, será que ele, de algum modo, nos aproveita? Ou tudo se perde?

Talvez este filme não seja uma obra-prima, apesar de todas as críticas favoráveis e da adesão dos espectadores (a sala estava completamente cheia), mas é um filme que se vai insinuando, que se vai adensando. Como a vida. Sempre junto à relva, junto à vida. Para quem for à procura de resposta, não as encontra. Não há ali um Outro que possa dizer a cada um, de forma clara e objetiva, o que é a vida e, sobretudo, como vivê-la. E quando alguém tenta colar-se demasiado a esse lugar, parece sempre que vem aí o pior. Ou, pelo menos, a ideia-feita, o lugar-comum.

Por isso, há certas perguntas que devem permanecer sem resposta: somos nós que aproveitamos o momento ou ele que nos aproveita? Eis um modo de concluir bem singular: não empacotando a vida numa fórmula, numa resposta, mas, pelo contrário, deixando a vida escancarada.

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